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CCIFB e ONG Dia da Terra Brasil realizam o 3º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade

Evento reuniu líderes empresariais e especialistas em conversas sobre questões relacionadas à bioeconomia e à biodiversidade.

 

O 3º Fórum de Bioeconomia e Sustentabilidade, realizado na última quinta-feira (22/08) por meio de parceria entre a Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB) e a ONG Dia da Terra Brasil, reuniu especialistas e lideranças empresariais em discussões envolvendo temas cruciais nos campos da bioeconomia e sustentabilidade. Com o dobro de pessoas inscritas em relação à edição anterior, o Fórum deste ano teve como palco o auditório da Biblioteca Parque Villa-Lobos, na Zona Oeste da capital paulista.

O evento contou com o patrocínio da Capgemini, da CNP Seguradora e da Veolia. Também recebeu apoio da Helexia, da Renault e da Schneider Electric. E recebeu, ainda, o apoio especial do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS)Rever Consulting, Tabet Advogados, RH Busnello's Solutions, Utopies, e Biblioteca Parque Villa-Lobos.

A abertura do Fórum foi feita pelo vice-presidente e tesoureiro da CCIFB-SP, Stéphane Engelhard, que destacou a importância da bioeconomia na relação entre a França e o Brasil. Ele lembrou que, em sua visita ao Brasil em março deste ano, o presidente francês, Emmanuel Macron, se encontrou em Belém (PA) com representantes dos povos originários.  “Sem dúvida o Brasil tem uma oportunidade enorme com o bioma da Amazônia”, afirmou.

Fernando Tabet, colíder da Comissão de Bioeconomia da Câmara e padrinho do Fórum, também deu as boas-vindas aos participantes, destacando que a programação foi elaborada com o objetivo de abordar os maiores desafios enfrentados no campo da bioeconomia e da sustentabilidade. Tabet ressaltou o sentido de urgência que a questão imprime, ressaltando que “temos um planeta que pede socorro; mais do que isso, no entanto, quem pede socorro é a comunidade, pois o planeta provavelmente continuará se os seres humanos deixarem de existir”.

Mozart Mesquita, copresidente da ONG Dia da Terra, também recebeu os participantes chamando a atenção para o momento difícil em que se encontra o planeta em relação à perda da biodiversidade, que afeta a todas as espécies. “Cerca de um milhão de espécies estão ameaçadas de extinção”, destacou. Ele lembrou que o Brasil, um dos países com maior biodiversidade do planeta, desempenha um papel crucial na luta para a preservação ambiental.

A palestra inicial foi de Marina Freitas Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que falou da importância da questão social ao se pensar em um novo modelo de desenvolvimento que leve em conta a sustentabilidade. “O Brasil é campeão em biodiversidade. Ele está entre as 20 maiores economias do mundo, mas, infelizmente, é também campeão em desigualdade social”, disse. “Não existe um ambiente saudável para uma empresa operar se estamos em uma sociedade falida.”

 

Painel 1 | As marcas e a mudança climática

O primeiro painel de discussões, que teve como tema “Marcas e Mudança Climática”, contou com a participação das empresas Veolia, Mercado Livre e Helexia, além de Marina Freitas Grossi. Lina Del Castillo, Diretora Executiva de Sustentabilidade, Marketing e Comunicação da Veolia, destacou que a companhia tem um entendimento diferenciado em relação ao papel da comunicação na questão da sustentabilidade. “A comunicação corporativa atua muito no final da cadeia, no momento de divulgar as informações. Nesse processo, que ocorre em mão dupla, escutar os stakeholders é parte fundamental”, destacou Lina.

Cyrille Bellier, diretor executivo da Rever Consulting e moderador do painel, lembrou que “o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) valoriza os esforços do lado da demanda como algo que tem um potencial de redução da ordem de 40% a 70%” nas emissões. Esse potencial, para ser ativado, depende muito das marcas”, afirmou.

Marina Freitas Grossi salientou que uma pesquisa global realizada pela Edelman mostrou, entre outros dados importantes, que, para 39% dos entrevistados, as empresas apenas fingem que se importam com a crise climática. “A desconfiança e essa percepção da sociedade são perigosas porque causam inação e pessimismo”, disse ela. Para transformar esse pessimismo em otimismo, acrescentou a presidente CEBDS, as empresas devem permitir que as pessoas tenham acesso, de forma transparente, ao que estão fazendo e devem engajar o consumidor. “A marca que não se posiciona é vista como uma marca que não tem credibilidade”, destacou.

Em sua abordagem ao tema em discussão, Laura Motta, Gerente Sênior de Sustentabilidade do Mercado Livre, afirmou que apesar da escolha ser do consumidor, a empresa entende que tem um papel importante em oferecer informações e mostrar as opções para a melhor escolha. Com base nesse entendimento, a companhia passou a inserir nas fichas técnicas dos produtos informações que evidenciam se ele tem impacto positivo ou não. “Passamos a dar visibilidade a esses produtos com campanhas de divulgação, pois não é tão trivial para o consumidor estar aberto a experimentar um novo produto”, disse ela.

Aurélien Maudonnet, Country Director Brazil da Helexia, relatou que a companhia tem acumulado vários casos de sucesso ao auxiliar os clientes a realizarem sua jornada na transição energética. No entanto, segundo aponta o executivo, um dos desafios encontrados é o fato de alguns clientes encararem as práticas de ESG como um custo, e não como uma oportunidade. “Estamos aqui para apresentar soluções práticas como diagnóstico energético e medidas de eficiência energética que permitam a eles não apenas descarbonizar suas operações, mas também reduzir o custo operacional”, afirmou.

 

Painel 2 | Bioeconomia e Tecnologia

L'Oréal, Carrefour e Schneider Electric participaram do segundo painel, em que o tema “Bioeconomia e Tecnologia” orientou o debate. A moderação ficou a cargo de Emanuel Queiroz, vice-presidente da Capgemini, que trouxe informações alarmantes sobre o impacto das mudanças climáticas. “Segundo a ONU, nos últimos 20 anos mais de 1,2 milhão de pessoas pereceram em decorrência dos desastres ambientais. Ou seja, isso é mais do que as mortes causadas pela bomba atômica de Hiroshima por ano. Nossa responsabilidade é impedir que essa bomba seja detonada a cada ano”, afirmou.

Susy Midori Yoshimura, Diretora Sênior de Sustentabilidade do Carrefour, destacou que o Grupo mantém suas atenções voltadas para os riscos socioambientais de toda a sua cadeia produtiva, apoiando, desde 2018, o processo de transição dos sistemas alimentares. Como parte dessa preocupação, o Grupo analisa, com o apoio de imagens via satélite, a procedência de toda a carne bovina oferecida em suas unidades. O objetivo é evitar a venda de carne oriunda de áreas de desmatamento, de invasões de terras indígenas ou áreas de preservação ambiental. “Nós conseguimos analisar 30 mil fazendas, que é o número de propriedades que produzem carne para o Grupo por ano”, assinalou.

Cristina Garcia, Diretora de Pesquisa Avançada e Comunicação Científica - Pesquisa e Inovação Latam da L'Oréal, informou que a companhia desenvolveu uma ferramenta de análise de ciclo de vida dos produtos, que vai desde o impacto da extração da matéria-prima, passando pela etapa de uso (que tem grande importância no impacto global, por exemplo, em emissão de carbono e em consumo de água) e também pelo fim do seu ciclo de vida, quando o seu rejeito vai para o meio ambiente. “Essa ferramenta, que a gente chama de SPOTS - Sustainable Product Optimization Tool - , é usada sistematicamente a cada novo desenvolvimento de produto”, destacou.

Mathieu Piccin, Head of the Sustainability Business da Schneider Electric, lembrou que no Brasil existem ainda 1 milhão de pessoas sem acesso à energia elétrica, “que é um passaporte para uma vida decente”. Soluções simples, segundo ele, podem oferecer recursos para essa questão. “A gente enxergou em Tumbira, uma comunidade no Rio Negro, no Amazonas, que é possível mudar a vida das pessoas simplesmente colocando placas solares integradas com a distribuição de energia”, destacou.
 

Painel 3 | Direitos Humanos e Bioeconomia

No terceiro painel, dedicado ao tema “Direitos Humanos e Bioeconomia”, representantes das empresas Dengo e Michelin e da ONG Fundação Amazônia Sustentável (FAS) apresentaram realizações e trocaram experiências e impressões. O painel foi mediado por Victor Del Vecchio, advogado e consultor em Direitos Humanos e Meio Ambiente. Ele lembrou que, durante a COP28, reforçou-se a visão de que não existe justiça climática sem direitos humanos. “Acredito que posso considerar também que não existe bioeconomia sem direitos humanos”, disse.

Bruna Mesquita, Gerente de Sustentabilidade da Michelin, destacou a iniciativa da empresa batizada de “Juntos pelo Extrativismo da Borracha Amazônica”, que busca resgatar a cadeia da borracha extrativista da Amazônia. O trabalho é realizado juntamente a famílias de seringueiros com o objetivo de garantir uma remuneração adequada para a extração da borracha e, ao mesmo tempo, ajudar essas famílias na preservação da natureza. Nesse sentido, afirmou, as comunidades atendidas seriam as “guardiãs da floresta”.

Ana Laura Pohl, Gerente de Marca, Relações Públicas, Sustentabilidade da Dengo, também apresentou o trabalho realizado pela fabricante de chocolates junto a produtores de cacau na Bahia. A empresa adquire o cacau diretamente do produtor, oferecendo uma remuneração melhor do que aquela paga pela indústria. Para isso, contudo, estabelece padrões de produção que elevam a qualidade do produto final. “A Dengo dá assistência técnica e agrícola gratuita pra esse produtor. Ele beneficia o cacau, ou seja, ele vai nos trazer uma amêndoa que teve seu aroma, PH, acidez e outros aspectos já testados e melhorados”, disse.

Wildney Maia Mourão, Gerente de Empreendedorismo e Negócios Sustentáveis da FAS – Fundação Amazônia Sustentável, destacou os desafios que enfrentam as pessoas que vivem na Amazônia profunda. “Coisas comuns para gente da cidade, como energia, comunicação e logística, são um desafio muito grande para quem vive nessas regiões. Eu sempre brinco que a gente começa o jogo na Amazônia perdendo de 3 a 0”, afirmou. Segundo ele, a organização adotou alguns programas para ajudar comunidades tradicionais e grupos indígenas a vencerem esses desafios, como educação de impacto, cursos de empreendedorismo e iniciativas voltadas para a bioeconomia.
 

Almoço sustentável

A pausa entre os debates também foi uma das atrações do evento. Os participantes puderam experimentar o almoço preparado pela ecocozinheira Bia Goll, que apresentou um cardápio que refletiu sua paixão por ingredientes não industrializados e práticas de agricultura urbana – o que, em suas palavras, “uniu técnicas ancestrais com ingredientes modernos e combinações provocativas”.

 

Programação Dia da Terra Brasil

À tarde foram realizados mais cinco painéis de discussões. No primeiro bloco, o tema foi “Jardins Comestíveis e Segurança Alimentar”, que contou moderação de Geovanna Nunciato Pereira, da Catraca Livre. Participaram como palestrantes Flavia Bellaguarda, Diretora Executiva do Parques da Paulista; Jorge Forager, Especialista em EtnoBotânica; Luiza Haddad, Co-Founder & Diretora Executiva da Pé de Feijão; Nabil Bonduki, Arquiteto e Urbanista; e Aurélio Costa, Secretário de Abastecimento e Segurança Alimentar da Prefeitura de São Paulo.

O segundo painel teve como tema “Jean Paul Ganem e a arte com a natureza!”, desenvolvido pelo próprio artista plástico Jean Paul Ganem. 

Com o tema “Reflorestamento, Regeneração e Crédito de Carbono, Desafios e Controvérsias”, o terceiro painel foi moderado por Reinaldo Canto, Diretor de Projetos Especiais e Vice-Presidente do portal Envolverde. Participaram das discussões Adrien Pages, Co-Founder e CEO da Morfo; Fernando Tabet, Advogado Especialista em Direito Ambiental, da Tabet Advogados; Jônatas Trindade, Subsecretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo; e Marcelo Leão, Coordenador do Projeto Arbolink.

No quarto painel, o tema foi “Pierre Ruprecht: SPLeituras e sua contribuição na educação”, ministrado por Pierre Ruprecht, Diretor Executivo da SP Leituras.

O quinto e último painel teve como tema “Mecanismos de Incentivo e Mobilização de Recursos para Impacto Positivo”, com a moderação de Amália Safatle, Editora e cofundadora da Revista Página 22. Participaram Antonio Andrade, Sócio-fundador da Um a Mais, Fabio Cesnik, Sócio-fundador da CQS-FV Advogados, André Tchernobilski, CEO da Zeg Technologies and Zeg Environmental da Nébula; e Maria Luiza Morandini, da área de Sustentabilidade e Ações Culturais do Instituto EEP.

 

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