Entrevistas
Conectando França e Brasil para o futuro
Desde os anos 1970, Jean Larcher tem sido uma figura central na construção de uma instituição sólida, com visão nacional e, ao mesmo tempo, autonomia
Jean Larcher chegou ao Brasil nos anos 1970 a trabalho, mas foi na Câmara de Comércio e Indústria França-Brasil (CCIFB) que sua trajetória se conectou diretamente ao país. Em 1974, quando atuava no Grupo Accor, se associou à Câmara de São Paulo. Na época, a instituição passava por mudanças: “na sua primeira fase, a CCIFB-SP funcionou como um clube de negócios. A primeira revolução da entidade ocorreu sob a presidência de Jean-Marie Monteil, que a dinamizou”, lembra Larcher. Entre outras iniciativas, a gestão de Monteil criou as Comissões para debates de negócios e outros temas relevantes para as relações bilaterais. As administrações seguintes foram na mesma linha, com presidentes oriundos de setores diversos, como a indústria, os serviços e os bancos.
Em 1996, sob a presidência de Jean-Claude Breffort, ocorreu a segunda grande transformação com a fusão das Câmaras do Rio de Janeiro e São Paulo. O nome CCFB, originalmente associado ao Rio de Janeiro, foi mantido, e a sede permaneceu na cidade, aproveitando os seus quase 100 anos de história. A fusão teve como objetivo fortalecer a presença da Câmara e expandir suas operações nas duas principais praças econômicas do Brasil.
Foi nesse contexto que, em 1999, assumiu a presidência da instituição. Um dos marcos de sua gestão foi ter trazido a Câmara do Paraná para juntar-se a CCFB. “Enquanto isso, o Rio de Janeiro transformou a Câmara de Minas Gerais em Regional”, lembra o ex-presidente. Nascia, assim, uma entidade de negócios que integrava quatro Regionais em uma voz ativa da comunidade franco-brasileira em defesa de interesses comerciais recíprocos.
Jean destaca que, orgulhosa do sucesso desse modelo, a Câmara reforçou sua estrutura ao criar uma Diretoria Nacional independente das Diretorias Regionais. Segundo ele, "isso permitiu garantir uma unidade estratégica em todo o conjunto, ao mesmo tempo em que unidades regionais ganhavam autonomia para organizar eventos e Comissões." Na época, eram mais de 500 associados e cerca de 100 eventos realizados anualmente.
Ele também idealizou o Fórum de Negócios, que tinha o objetivo de criar uma plataforma para interações mais profundas entre empresários, além de fundar o Prêmio LIF (Liberdade, Igualdade e Fraternidade, lema da Revolução Francesa), que celebrava os melhores exemplos de cooperação entre os dois países. O LIF foi substituído pelo Prêmio Personalidade da CCIFB, que anualmente homenageia indivíduos que se destacam na promoção da relação Brasil-França, sendo entregue no Jantar de Fim de Ano em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Larcher acredita que a relação Brasil-França vai além dos negócios, com a cultura desempenhando um papel fundamental na construção de um entendimento mútuo. Nesse sentido, a “Primavera Francesa” foi um marco de sua presidência, ao oferecer ao público brasileiro exposições e iniciativas de divulgação da cultura, das marcas e dos negócios franceses. Segundo ele, os eventos culturais foram decisivos para mudar a percepção dos brasileiros sobre a França nos últimos anos. "Embora a Câmara tenha uma atuação forte no setor de negócios, temos uma visão ampla sobre educação e cultura. Um exemplo de grande sucesso foi nossa participação em uma exposição sobre Picasso, ainda durante a gestão de Monteil. A temporada cultural de 2025, em que a França promove o Brasil e vice-versa, terá centenas de projetos culturais e certamente será um grande sucesso, a exemplo do que tivemos nas primeiras edições desses eventos, em 2005 e 2009.” Foi na gestão de Larcher que a Câmara comemorou os seus 100 anos, em 2000. Uma grande festa foi realizada no Rio de Janeiro, onde foi inaugurada a primeira sede, reunindo associados, parceiros e convidados.
Apesar de ter tido apenas um mandato na CCIFB, o ex-presidente segue atuando como apoiador da instituição, sempre atento ao contexto político e econômico. Esse olhar lhe permite apostar que a parceria entre os dois países continuará a se aprofundar, especialmente em energia verde e startups, áreas que considera essenciais para um futuro sustentável e tecnológico. “O papel da Câmara é favorecer os negócios, seja ajudando diretamente as empresas ou colocando-as em contato com entidades que as promovem, tanto aqui como na França”, afirma. “O papel da Câmara é vital tanto para apoiar a França no Brasil quanto para fortalecer o Brasil na França – aliás, a maioria dos sócios é de brasileiros”, observa.
Para os 125 anos da CCIFB, Larcher vê uma instituição que se transforma no mesmo ritmo da própria relação entre os dois países. “A presença francesa no Brasil foi muito forte no século XIX, com os pintores e outros artistas, e se solidificou no século XX com uma visão empresarial que foi fundamental para o crescimento bilateral”, comenta. Nesse aspecto, afirma, a CCIFB foi crucial para mudar a percepção da França no Brasil, aproximando-a de uma imagem moderna, tecnológica e econômica. “Embora a cultura continue sendo um pilar importante, o foco agora está na inovação e no intercâmbio empresarial. Nossas palavras-chave são imagem e notoriedade, eficiência e dinamismo, e trabalhamos para, cada vez mais, atrair novos sócios e servir a comunidade franco-brasileira”, conclui.