São Paulo Comissões

O impacto das transformações geopolíticas no Brasil e na América Latina

Evento promovido pelo Observatório Econômico da CCIFB-SP analisou as mudanças globais pós-Trump e o papel estratégico do Brasil

No dia 25 de fevereiro, o Observatório Econômico da CCIFB-SP realizou o evento "Novo cenário geopolítico global: implicações para o Brasil e para a América Latina", moderado por Octavio de Barros e com a participação de Jorge Arbache, professor de Economia na UNB e colunista do Valor Econômico.

O debate trouxe à tona as transformações geopolíticas globais dos últimos anos, com foco nas mudanças impulsionadas pela presidência de Donald Trump. Embora muitos desses processos tenham começado ainda no governo Obama, foi sob Trump que a postura unilateral se intensificou, especialmente em áreas como comércio e clima. “A perda de institucionalidade e de processos legais estabelecidos gerou um ambiente de insegurança, afetando as relações internacionais e os mercados financeiros, além de comprometer a estabilidade geopolítica, como evidenciado pela guerra na Ucrânia e a crise da OTAN”, destacou.

Essas mudanças tiveram um impacto direto na economia global. A confiança nos contratos internacionais, essencial para a estabilidade econômica, foi abalada pelas intervenções unilaterais dos Estados Unidos. “O que temos visto são interferências profundas no funcionamento de contratos vigentes”, explicou. Isso gerou uma volatilidade sem precedentes nos mercados financeiros, levando empresas a suspender ou até cancelar investimentos, incapazes de prever os próximos passos do governo americano.

O impacto climático também faz parte desse novo contexto. A retirada dos Estados Unidos do Acordo de Paris foi interpretada como uma resposta ao crescimento da China nas tecnologias sustentáveis, como energia solar e veículos elétricos. “Ao sair do acordo, os EUA tentam conter esse avanço para proteger seus próprios interesses em setores como combustíveis fósseis”, afirmou. Essa decisão gerou incertezas significativas no mercado global e pode reconfigurar as dinâmicas geopolíticas.

A geopolítica está mais complexa do que nunca, e os recursos naturais desempenham um papel cada vez mais central nesse cenário. Com um valor estimado entre 100 e 180 trilhões de dólares, eles estão no centro de uma disputa acirrada entre potências como Estados Unidos, China, Europa e Japão. Nesse contexto, cresce a relevância de novas lideranças, como Brasil, Índia e Indonésia, que emergem como protagonistas à medida que a influência dos EUA se enfraquece.

O Brasil, com seus vastos recursos naturais, ocupa uma posição estratégica no cenário global. Além de sua biodiversidade e das maiores reservas de água do mundo, o país tem uma autonomia única, produzindo a maior parte dos alimentos e da energia que consome. “Em um mundo onde a incerteza se torna a norma, a diversificação geográfica da produção é essencial”, destacou o economista, sugerindo que o Brasil está bem posicionado para atrair investimentos globais, especialmente em energias limpas.

E o que isso significa para o futuro? O país poderia ser ainda mais assertivo em suas políticas, aproveitando suas vantagens estratégicas. A busca por alianças com nações que compartilham interesses em sustentabilidade e inovação pode ser um caminho para fortalecer sua posição no cenário global.

Por fim, o palestrante trouxe à tona uma questão fundamental: a ascensão da Ásia. "A China, particularmente, se tornou líder no campo da ciência, tecnologia e inovação", afirmou, destacando sua crescente influência no comércio global. Ele também sugeriu que a relação entre EUA e China pode evoluir para uma "Pax sino-americana", impactando países como o Brasil, especialmente no comércio agrícola. Para mitigar riscos e evitar a dependência excessiva de um único parceiro comercial, recomendou que o Brasil adote uma agenda de sustentabilidade e resiliência, reforçando sua posição geopolítica diante dessas novas realidades.
 

Assista na íntegra:

 

TODAS AS PUBLICAÇÕES